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Quem somos... Histórico, experiências e trajetórias do projeto de produção de filme de animação com crianças

A linguagem dos filmes de animação atinge o público e o gosto de crianças. No entanto, na maioria das vezes, as crianças não participam do processo de produção dos filmes. Há algumas experiências existentes no Brasil e no exterior em que as crianças participam desse processo, ora experimentando a linguagem, ora produzindo conteúdos. Pensando sobre o alcance lúdico, imaginativo e criativo do cinema, aliado a cultura da infância, desenvolvemos encontros de pesquisas, com o apoio do CNPq, e de projetos de extensão, apoiados pela Pró Reitoria de Extensão, Cultura e Assuntos Estudantis – PREAE/UFMS –, com crianças dos 5ºs anos do Ensino Fundamental em uma escola pública de Campo Grande, Mato Grosso do Sul, nos anos de 2010 a 2013, e retornando os trabalhos, no ano de 2016, em outra escola municipal da mesma cidade.

As ações são desenvolvidas com a coordenação da Unidade de Educação do Centro de Ciências Humanas e Sociais da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, com a coordenação da profa. Dra. Constantina Xavier Filha, Tina Xavier. Os projetos integram-se ao Grupo de Estudos e Pesquisas em Sexualidades, Educação e Gênero – GEPSEX –, cadastrado no diretório de Grupos de Pesquisas do CNPq.

O desejo de pesquisar sobre cinema e produzir filmes com crianças surgiu inicialmente da experiência da coordenadora dos projetos, como amante da sétima arte. Descobriu, em sua trajetória tardia, outras formas de linguagem cinematográfica, além da hollywoodiana de costume; com isso, novas formas de ver e entender o mundo se abriram à sua frente. Mais tarde, apaixonou-se pelo cinema de animação, especialmente ao participar como ouvinte do festival Anima Mundi, que é um dos maiores festivais mundiais de exibição de filmes do gênero. Um mundo mágico se abriu a sua frente. A partir daí, surgiu o interesse em produzir filmes de animação com crianças.

A primeira experiência de produção de filme de animação com criança ocorreu no ano de 2010. Antes disso, nos anos de 2008/2009 a professora já havia realizado a produção de dois curta-metragens junto ao Anima Escola – Instituição criada pelo festival Anima Mundi (Festival Internacional de Animação do Brasil) que desenvolve projetos em escolas públicas para a produção de filmes de animação. Os filmes foram produzidos no âmbito do projeto de extensão "Educação para a Sexualidade, Equidade de Gênero e Diversidade Sexual: práticas e materiais educativos", com apoio da Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão – SECADI/MEC. Os referidos filmes foram produzidos com professoras que foram cursistas do projeto de extensão. Esses filmes compuseram o Kit de Materiais Educativos de Educação para a Sexualidade, para a Equidade de Gênero e para a Diversidade Sexual, sob sua coordenação. A experiência foi importante para observar o processo pedagógico da produção do cinema de animação e acender o desejo de viver o processo com crianças.

Em 2010 iniciamos um projeto de extensão (PREAE/UFMS) e de pesquisa (com apoio do CNPq) em uma escola municipal de Campo Grande, Mato Grosso do Sul. As crianças do 5º. Ano do Ensino Fundamental participaram de encontros semanais para a discussão sobre gênero, diversidades, diferença. Nesse ano produzimos o filme "Jéssica e Júnior no mundo das cores" (3 min.) – filme realizado juntamente com a Produtora Animare, Minas Gerais – conta a história de uma menina que se transforma em cor-de-rosa de tanto viver imersa em um mundo rosa. O mesmo ocorre com o menino que se torna azul. Ambos passam a questionar essa transformação e encontram conjuntamente a saída para voltar às cores de origem. O filme foi baseado em um livro infantil de autoria de Tina Xavier denominado “A menina e o menino que brincavam de ser” (2009).

Todo o processo de pré-produção e produção do filme foi realizado com as crianças, integrantes da pesquisa e de extensão. O roteiro foi escrito a partir de problemáticas vividas pelas crianças e baseado no livro infantil.

No ano seguinte, 2011, retornamos à mesma escola com novas turmas da mesma série, 5º. Ano, para dar prosseguimento às atividades do mesmo projeto de pesquisa e de extensão. Nesse ano, o filme produzido foi o “Ser Criança em Campo Grande: um documentário animado” (9 min.). O filme foi fruto do curso de cinema documentário promovido pelo Pontão de Cultura Guaicurus, Campo Grande/MS. A técnica utilizada foi a de recorte em stop motion e o filme contou a história de uma menina e um menino que narram seu dia vivido em Campo Grande, capital do Mato Grosso do Sul. Descrevem o que mais gostam de fazer na cidade e imaginam a cidade governada por crianças super-heroínas, com chuva de doces e balas, transformada em uma docelândia, sorvetelândia e guaranalândia. Declaram o seu amor e apreço pela cidade e esperam que ela seja cada dia melhor para as crianças e demais pessoas que vivem nela.

Nos projetos de pesquisa e extensão, no ano de 2011, produzimos também o filme "A Princesa Pantaneira" (9 min.). Conta a história de uma princesa que vive no Pantanal sul-mato-grossense. É alegre, valente, corajosa, gosta de aventura e, no final, salva o príncipe em perigo. As representações de feminilidade e masculinidade são tensionadas no roteiro do filme. As características da Princesa Pantaneira contrapõem-se às que as crianças tinham demonstrando inicialmente nos encontros do projeto, o que serviu para dar ideia do quanto esse processo foi fértil à reflexão sobre o que é ser menino e menina na sociedade e sobre como se podem construir novas formas de ser.

Em 2012, as temáticas dos projetos foram sobre "Violência contra crianças e direitos humanos". O filme produzido foi "Queityléia em perigos reais" (9 min.), conta a história de uma menina que, em sonho, faz tudo o que sempre quis fazer dentro de casa, colocando-se em situações de perigo e de vulnerabilidade.

O roteiro do filme expressou os perigos que a menina pode sofrer dentro de casa, de se tornar vulnerável ao se comunicar em sala de bate-papo com pessoa que não conhece, além de outras atitudes que a colocaram em situação de perigo. O filme não pretendeu utilizar linguagem 'pedagogicamente correta' para traçar um rol de atitudes e comportamentos para a menina seguir, mas provocar um diálogo com o/a espectador/a para pensar na possibilidade de a protagonista fazer tudo o que quisesse, ferindo-se e/ou tornando-se vulnerável dentro de casa. Pensamos que é a discussão do filme a que se tornará mais instigante, em função da história do sonho da menina.

No ano de 2013, as temáticas do ano anterior continuaram permeando os nossos encontros com outro grupo de crianças. Dois filmes foram produzidos. O filme "Direitos das crianças: uma aventura intergaláctica" (9 min.), feito com a técnica de 2D, conta a história de amizade de duas crianças terráqueas, Lila e Luiz, residentes em Campo Grande, próximo à escola das crianças do projeto, com as crianças ETs, Etvaldo e Etnilda, habitantes do Planeta Timbum. Lila e Luiz convidam-nas a passear no planeta Terra. Chegando aqui, conhecem a realidade de outras crianças terráqueas: as que vivem com cuidado, alimentação e proteção; e as que são violadas, maltratadas, que sofrem todo tipo de violação de direitos. Crianças, terráqueas e ETs resolvem denunciar essa situação e vão para a rua exigir que seus direitos sejam garantidos.

O outro filme, também produzido em 2013, "João e Maria: dos contos à realidade" (9 min.), foi realizado com a técnica de stop motion (gravação quadro-a-quadro), é o reconto contemporâneo do conto de fadas do mesmo nome. João e Maria são irmãos e foram vendidos/as pelo pai e a mãe a um ‘casal mau’ que morava em uma bela casa de doces. Lá deveriam realizar trabalhos forçados e também seriam obrigados a pedir dinheiro no semáforo. Descobriram que muitas outras crianças eram escravizadas pelo mesmo casal. Conseguem encontrar a chave da liberdade e se libertam. Ligam para o disque 100 e vão para um abrigo aguardar por uma vida nova.

Nesse período de execução dos projetos com as crianças, também alguns livros infantis foram escritos e produzidos com a co-autoria das crianças e/ou com a ilustração delas. Os livros foram frutos de projetos de pesquisa, com apoio do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), por esse motivo são entregues gratuitamente às crianças nos encontros do projeto de extensão - 2016. Os livros produzidos estão listados a seguir:

1) As aventuras da Princesa Pantaneira

XAVIER FILHA, Constantina. As aventuras da Princesa Pantaneira. Campo Grande, MS: Editora Life, 2012.

 

SÍNTESE DO LIVRO:

O livro é baseado na personagem do filme de animação A Princesa Pantaneira. É um livro com ilustrações de Lorena Martins e textos de Tina Xavier. A protagonista é uma princesa-menina que mora no Pantanal sul-mato-grossense. Chama-se Camuela, gosta de brincar com as pessoas e com os bichos. Foram eles quem deram a ela o título de Princesa Pantaneira. O livro retrata algumas de suas aventuras como dar nome aos príncipes sem-nome; montar cavalo bravo; imaginar histórias e salvar a princesa Rosinha que vivia presa no reino cor-de-rosa.

2) Do meu corpo eu cuido e protejo

XAVIER, Tina. Do meu corpo eu cuido e protejo. Ilustrações Lorena Martins. Campo Grande, MS: Ed da UFMS, 2014.

SÍNTESE DO LIVRO:

“Do meu corpo eu cuido e protejo” (2014) é um livro com ilustrações de Lorena Martins e textos de Tina Xavier. Este livro também foi escrito a partir das discussões e das informações coletadas na pesquisa com as crianças. Ele tem por objetivo mediar a discussão sobre corpo e construir a possibilidade de autocuidado e autoproteção pela própria criança. Inicia-se instigando o/a leitor/a a pensar sobre seu próprio corpo, sobre suas possibilidades de brincar, pular e descobrir o mundo. A partir de imagens que expressam cenas cotidianas, orienta sobre como cuidar do corpo e o proteger. Ao longo do livro, textos e ilustrações instigam as crianças a pensar sobre seus corpos e sobre como se apropriar deles, para aprender, com isso, a se cuidar e a se proteger. Para a construção desse repertório corporal e reflexivo, a autora estabeleceu vários pressupostos ao longo da narrativa; o primeiro deles é de que o corpo pertence à criança. Outro pressuposto é o direito da criança de conhecer o próprio corpo, atribuindo nomes apropriados às partes a que comumente damos apelidos.

3) Meninas  e menino têm direitos

XAVIER, Tina. Meninas e meninos têm direitos. Ilustrações crianças e adolescentes do projeto de pesquisa. Campo Grande, MS: Editora da UFMS, 2014.

 

SÍNTESE DO LIVRO:

O texto do livro “Meninas e meninos têm direitos” (2014) é de autoria de Tina Xavier e ilustrado pelas crianças do projeto. Os direitos sobre os quais discutir foram escolhidos pelo grupo. As crianças queriam saber a respeito dos direitos de brincar e de se divertir como quisessem; de ter liberdade de brincar com meninas e meninos; de viver sem discriminação; de ser protegidas de qualquer tipo de preconceito e de violência na escola e em qualquer outro lugar; de ter família de muitos jeitos; de crescer em ambiente de respeito, segurança e cuidado; de não ser exploradas e de não ter de trabalhar antes da idade mínima; de ser bem alimentadas; de ter um nome, uma nacionalidade e documentos; de ter proteção e socorro, de receber proteção; de ter saúde e assistência médica; ter uma boa escola pública; de comemorar todo aniversário; de sonhar; de ter liberdade; de ser felizes e respeitadas; de falar e ser ouvidas e de “viver em um mundo feliz e de paz para todas as pessoas!”

4) Viver sem violência é um direito

XAVIER, Tina. Viver sem violência é um direito. Ilustrações crianças e adolescentes do projeto de pesquisa. Campo Grande, MS: Ed da UFMS, 2014.

 

SÍNTESE DO LIVRO:

O livro “Viver sem violência é um direito” (2014b) é de autoria de Tina Xavier e ilustrado pelas crianças do projeto, apresenta várias violências que podem ser sofridas por crianças e adolescentes: violência física (tapas, socos e pontapés) e demais tipos de violências. O caso da menina que tirou a ‘figurinha’ (imã) da geladeira em Campo Grande, MS, ganha destaque no livro com o seguinte texto: “Uma menina tirou uma figurinha da porta da geladeira: apanhou, apanhou... apanhou muito do seu pai. Alguém filmou e todo mundo ficou sabendo” (p. 7). A exploração do trabalho infantil, de meninas no trabalho doméstico e de meninos como cuidadores de carro, ou pedindo dinheiro em situação de rua, também são apresentadas no livro. O abandono e a negligência no cuidado de crianças são igualmente retratados.

5) Princesa Pantaneira em: brincando no mundo mágico do cinema

XAVIER, Tina. Princesa Pantaneira em: brincando no mundo mágico do cinema. Ilustrações Lorena Martins. Campo Grande, MS: Editora da UFMS, 2014.

SÍNTESE DO LIVRO:

Neste livro, de autoria de Tina Xavier e ilustrações de Lorena Martins, a Princesa Pantaneira nos leva ao mundo mágico do cinema. Destaca que essa arte é uma maravilhosa maneira de contar histórias. Leva-nos a mundos diferentes e distantes. No livro viajamos pela história do cinema, sobretudo o cinema de animação até pensarmos em produzir um filme de animação com crianças. A Princesa explica os passos trilhados na produção do seu filme de animação, explicando sobre a técnica e alguns elementos da linguagem cinematográfica: planos, pré-produção, produção e pós-produção de um filme de animação. É um convite para pensarmos sobre cinema e fazermos cinema brincando.

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